Você está dirigindo à noite, seu carro bate em um carro estacionado e o danifica levemente. É claramente um carro de alguém muito rico e você está cheio de dívidas. É tarde da noite e ninguém vê. O que você faz? Deixa um bilhete com seu telefone? Pensa que são coisas da vida e que cada um “fique com seu prejuízo”?
Trabalhar valores na escola é potente, instigante e recompensador. Há várias maneiras desse trabalho acontecer: na forma de projetos interdisciplinares, em atividades específicas, implícita ou explicitamente nos conteúdos das matérias. Mas tão importante quanto isso é que esses valores sejam vivenciados em todos os espaços escolares: corredores, pátios, salas de aula, na administração entre outros locais.
Não há dúvida de que o papel da escola voltado exclusivamente à excelência acadêmica há muito se tornou insuficiente. A escola representa o mundo e a atuação de educadores, alunos e funcionários é intermediada por valores. Resolução de conflitos e reparação de injustiças estão entre os desafios diários que são pautados por valores como respeito, responsabilidade e empatia.
Alguns exemplos de valores que devem ser trabalhados intencionalmente na escola: cooperação, empatia, disciplina, perseverança, paciência, justiça, tolerância, sinceridade, prudência, honestidade, entre tantos outros.
Quando se diz intencionalmente trabalhados, significa que esses valores aparecem nos planejamentos de atividades escolares. Não são simplesmente consequências ocasionais. As famílias que dão mais importância ao trabalho de valores devem ficar atentas a isso. Uma forma de verificar esse trabalho, está na quantidade de tempo dedicado a ele. Sim, quantidade é fundamental. Nenhuma escola se dirá tolerante ao racismo, por exemplo, mas quanto de suas atividades dedica a esse tema? Em que anos escolares ele aparece?
Quando se trata de valores, as divergências entre famílias e escola estão normalmente na quantidade, no espaço, momento/faixa etária, profundidade em que esse tema deve ser tratado. Ninguém se dirá a favor do preconceito quanto ao gênero, mas algumas famílias preferem tratá-lo no âmbito da casa, outras acreditam que não se deve dedicar muito tempo a essa questão.
Poderá haver discordâncias, mas o fato da escola defender uma posição com clareza é um bom sinal, mesmo que haja alguma discordância. Adaptar-se a todos os gostos costuma ser somente uma forma de não se realizar um trabalho educativo efetivo.
Como o próprio trabalho com valores requer tolerância e respeito aos pontos de vista, o exercício da busca por afinidades e convergências entre família e escola pode ser bastante saudável, podendo gerar uma mudança ou ajuste de atuação que torne todo o processo educativo ainda melhor. No entanto, se as diferenças são irreconciliáveis, o melhor mesmo é a família buscar um novo lugar para seu filho ou sua filha. Não faz bem ao estudante viver essa tensão.
O trabalho com valores é tão importante, pois refletirá em toda a vida dos meninos e meninas, inclusive em suas vidas profissionais; e se trata de uma oportunidade de se rever, de se colocar no lugar do outro. Entre deixar ou não um bilhete na porta de um carro amassado, há uma reflexão profunda que envolve a possibilidade de nos tornarmos cada vez melhores.
Em resumo:
- Há várias formas de acontecer o trabalho educativo com valores;
- A importância que uma escola dá a esse trabalho está ligada diretamente à quantidade de tempo que dedica a ele;
- Famílias e escola pensarem diferentemente em relação a esse trabalho é natural e cabe uma reflexão sobre como tratar essa questão;
- O trabalho com valores afetará a vida inteira dos estudantes.