“O homem é o homem e a sua circunstância”
José Ortega y Gasset (1883 – 1955)
Para o filósofo espanhol José Ortega y Gasset, não podemos considerar o ser humano sem levar em conta aquilo que o circunda. Ele é, ao mesmo tempo, produtor e produto de seu meio.
Assim, família e escola têm papel central em sua formação na medida em que apresentam e organizam o entorno das crianças.
Quando somos crianças, tudo o que vemos é o mundo apresentado pelos adultos. Como nesse momento de nossas vidas ainda estamos longe de ter uma consciência autônoma, consumimos o mundo praticamente sem filtro. Daí as marcas profundas desse aprendizado inicial. Então, escolher esse entorno, seja escola ou outros ambientes de convivência, é o principal desafio das famílias nos anos iniciais dos filhos.
Na escola acontece grande parte do desenvolvimento das crianças, seja no campo dos conhecimentos formais, seja no desenvolvimento dos valores morais e de autoconhecimento. Mais do que isso, a comunidade escolar é um local de desenvolvimento das próprias famílias, que acontece nas trocas com educadores e com outras famílias.
A escola cria situações cotidianas de aprendizados e ambientes em que acontecem e são resolvidos problemas, além de proporcionar as interações entre colegas e educadores, formando laços afetivos, de trabalho e estudo. Alguns deles durarão muitos anos, indo para além dos tempos escolares.
Nesse sentido, uma escola que proporcione um ambiente diverso e rico em experiências é fundamental. O potencial de cada um poderá desenvolver-se somente à medida que encontra campo para isso. A quantidade de experiências conta, pois somente saberemos quais são os talentos mais naturais, quais são as vocações com maiores potenciais, quando proporcionarmos possibilidades diversas aos jovens e crianças.
Podemos pensar em socializar-se como fazer parte, transformar-se a partir do território que ocupa e das pessoas com quem interage, mas é também transformar. O próprio filósofo espanhol afirma que como somos tão imbricados em nossa circunstância, somente podemos nos salvar, salvando-a.
Mesmo quando escolhemos o entorno, não temos controle sobre o que nossos filhos aprendem a partir de uma dada experiência. Famílias com mais de um filho sabem bem disso. Mesmo com uma criação muito parecida, é comum formarem-se pessoas muito diferentes. Assim, como não podemos controlar de que forma nossos filhos interagem com o mundo, talvez nosso principal trabalho passe por participar da escolha dos cenários em que eles irão atuar, estar atentos para mediar e ajudá-los, da melhor maneira possível, com suas dúvidas e inseguranças.